

Fracasso e sucesso são faces da mesma moeda, duas palavras muito frequentes em nosso vocabulário contemporâneo. Enquanto o primeiro é almejado o segundo é refutado de toda e qualquer maneira. Entretanto, esses dois termos são ideais, pois não há alguém que só tenha tido sucesso na vida, ou alguém que só tenha fracassado.
Os ideais são constituídos desde nossa infância, através de identificações sucessivas e que pouco a pouco vão construindo nosso eu. São essencialmente valores, interdições, transmissões, culpabilizações advindos da cultura e da família a qual fazemos parte e transmitidos de geração a geração. Enfim são referências que utilizamos para seguir a vida. Algo da imagem que captamos dos outros, como também dos aspectos inconscientes recalcados ou Valores e normas da sociedade à qual pertencemos.
No contexto atual valoriza-se o ter ao ser: quanto mais “coisas” se tem, mais se é: sucesso, dinheiro, a posse de bens e o poder representam, no grau mais elevado, valores que todos sonham possuir.
Nesta mesma lógica, atualmente uma criança para ser bem sucedido na escola deve ser ótima aluna, ter facilidade na compreensão do conteúdo, deve ter acesso as diversas matérias extracurriculares, deve saber diversas línguas, deve ter acesso a toda e qualquer tecnologia, enfim “deve ter”. Como se isso, fosse uma promessa de futuro. Quando adulto ela terá acesso, portanto ao consumo de bens. Obter o “falo imaginário” representado pelo poder, dinheiro, respeito. O dinheiro e o poder, não são eles a felicidade?
O fracasso escolar em contrapartida pressupõe a renuncia a tudo isso. Em nossa cultura o fracasso escolar é sinônimo de fracasso de vida. Quando se fala do futuro para uma criança em situação de fracasso escolar, muito frequentemente ela evoca o fato de que se tornará um mendigo. Para muitas crianças é algo temido, angustiante, é o que as espera “se elas não trabalharem na escola.”
Infelizmente como no mundo dos adultos, muitas vezes, o fracasso escolar numa criança faz com que ela seja segregada pelos colegas e professores. E aquilo que poderia ser um problema passageiro, transforma-se numa marca. Trazendo consequências importantes em sua construção subjetiva.
Quem são os responsáveis pelo fracasso escolar de uma criança?
Do ponto de vista social, a responsabilidade do fracasso escolar é da própria sociedade, por conta de suas utopias de um mundo onde não haveria diferenças socioeconômicas; das famílias, ou do sistema educativo, com seus programas chatos demais, pesados demais, dos métodos pedagógicos não adaptados a uma nova população escolar, da heterogeneidade das classes, do excesso de alunos, da má formação dos professores, etc.
Quando uma criança chega aos nossos consultórios encaminhados pela escola com este tipo de questão, nosso trabalho como psicanalista prioriza a dimensão intima, individual da criança, relacionando o fracasso escolar com a história pessoal do sujeito. A medida que entra em jogo a dimensão intima, sai de cena o aluno e permanece a criança. E isso faz toda a diferença, no que diz respeito à relação criança e fracasso escolar. Ao invés do fracasso ser visto como um déficit, algo pejorativo que representa um sujeito, transforma-se em enigma a ser desvendado.
“Os psicanalistas são curiosos, as crianças também. Quando apenas lhe pedimos uma coisa, passam a interessar-se por si mesmas, geralmente não é preciso muito esforço para que elas entrem nesse jogo de esconde-esconde como esse misterioso hóspede que, nelas, as leva a agir ao contrário do que gostariam: gostaria de ser bonzinho, educado, ser bom aluno, mas algo de mim me impede. Elas nos contam histórias chatas, sem saber que estão relatando pedaços de sua própria história. É nossa função decifrar essas mensagens e levantar um ponta do véu que oculta a peça que está sendo encenada para que elas se tornem seus verdadeiros autores.”[1]
Fracasso e sucesso são apenas signos de uma sociedade. E nós seres humanos desamparados, na busca por construir nossa subjetividade emprestamos da cultura esses signos para nos denominar e consequentemente denominar o outro, mas, um sujeito vai muito, além disso.
[1] Cordié, Anny. Por que nossos filhos tem problemas? São Paulo. Martins fontes. 2005 p.299
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