

A criança através de suas idas à escola adquire valores culturais e sociais transmitidos que foram acumulados por gerações. A partir da educação informal e formal o ser humano desenvolve condições de enfrentar a realidade: pensar e adiar as satisfações suportando os desconfortos e aprendendo através da experiência. A aprendizagem informal é decorrente do convívio familiar: desde que somos bebê e no decorrer de nossa vida.
A função dos pais vai além do cuidado e proteção, pois, por meio do filho eles também realizam um sonho: seu bebê permitirá a constituição de um ser semelhante a eles, alguém que representará seus valores e crenças e a ele transmitirão o legado que herdaram. O ato de amor, cuidado e proteção permitirá a continuidade simbólica das gerações.
Os pais, ao olharem para seu bebê como sua majestade o bebê, reatualizam algo esquecido: sua onipotência e perfeição abandonadas. É esta atualização de seu próprio narcisismo que permitirá aos pais uma relação de ternura com seu bebê. Portanto, quando o bebê olha para a mãe, ele se vê a partir do que ela vê, o olhar da mãe é integrador. Os pais, a família e a escola transmitem algo além da educação informal e formal. O bebê e a criança pequena se tornam sujeitos a partir destas Outras figuras.
A escola que a criança frequenta é construída sobre laços sociais e está subordinada a referência dos pais, pois são eles que escolhem a escola do filho, é primeiramente com os pais que a escola constrói um clima de confiabilidade. E esta sensação de segurança que a escola transmite aos pais é transmitida aos filhos.
A escola maternal auxilia os pais na autonomia da criança, entretanto, é importante que ocorra uma primeira disponibilidade (consciente e inconsciente) dessas figuras parentais na separação com esse filho, pois antes de aprender, antes de assimilar o saber, duas condições psíquicas devem ocorrer:
A disponibilidade da criança para separar-se dos pais em direção a escola é consequência da disponibilidade dos pais em separar-se por um tempo do filho.
A constituição de uma determinada ordenação na família entre pai, mãe e filho, ou seja, cada membro da família ocupa certa posição psíquica à criança. A partir desta ordenação, a criança poderá construir sua história e, portanto, interessar-se pelo saber e ordenar os significantes proporcionados pela escola.
Se a criança permanece “acoplada” a mãe, não poderá formular perguntas ou articular qualquer saber. Esta criança não falará por si, ecoará a palavra materna, evidenciando assim a impossibilidade da separação.
A autonomia da criança relaciona-se ao “desenlace” das figuras parentais: consequência da expansão dos cortes pulsionais. À medida que a criança adquire autonomia e se aproprie cada vez mais de si/separando-se do outro e que cada vez mais essa autonomia funcional se amplie: higiene, alimentação e vestimentas.
A criança parte do desejo parental separa-se e cria seu próprio jeito, utilizando-se dessas referências. A criança, à medida que conquista cada transformação, anseia dar conta dos seus atos cada vez mais, consequentemente a autonomia da criança dará autonomia aos pais e educadores.
A adaptação escolar é sempre uma questão complexa, e são inúmeras as dicas para driblar os problemas em torno do primeiro dia de aula. Mas, a fase inicial já passou e seu filho ainda não se acostumou: o que fazer?
“Geralmente, após duas semanas de aula, a criança está adaptada, mas existem muitos fatores que influenciam o tamanho desse período”, comenta a pedagoga Rosemeire Guesso Mendonça (SP). Discussões com outros alunos, cansaço, estranhamento – tudo pode ser um motivo.
A observação deve ser diária, e a família e escola devem atuar juntas para diminuir o estresse da criança.
É senso comum entre os especialistas que cada um tem um ritmo diferente na hora da adaptação. Idade e a relação que a criança costuma manter com as pessoas também são importantes. Para se acostumar a um novo ambiente, um aluno pequeno pode levar de uma semana a meses. Não há padrão.
Crianças com dificuldades na adaptação são, muitas vezes, reflexo de pais que se sentem inseguros. “Mais de 50% das razões que explicam as dificuldades dos alunos podem ser encontradas nos pais”, afirma Rosemeire. Silvana Leporace, diretora pedagógica do colégio Dante Alighieri (SP), também alerta para a relação dos pais com a escola. “Eles precisam estar muito seguros da escolha que fizeram. Confiam na escola? Se sim, devem acreditar no trabalho
que os educadores estão fazendo.” Conversar com o filho, lembrá-lo dos amigos novos, das atividades legais, das brincadeiras, pode ser de grande ajuda na hora da recusa. Por outro lado, os pais também podem buscar mais atenção. A escola pode usar algo para tranquilizá-los e compartilhar mais sobre o cotidiano da escola, mostrando fotos ou diários.
É sempre bom lembrar que acontecimentos extremos como morte, nascimento de um irmão, separação dos pais, troca de babá, dentre outros, também podem afetar o grau de dependência das crianças dos pais.
Outro ponto importante é que a criança tenha rotina e horários. Isso evita que ela se estresse nessa nova fase porque está cansada ou irritada em acordar cedo, por exemplo.
A regressão no comportamento de crianças já adaptadas também acontece, afirma Silvana. “Há aqueles que adoram a escola nas primeiras semanas, se comportam bem, brincam, mas depois de um certo tempo começam a chorar, não querem mais ir à escola.”
Quando a aula cai na rotina, muitos alunos acabam entediados e perdem o encanto pela escola. Nesses casos o processo de adaptação escolhido pelos profissionais responsáveis deve ser refeito, desde o começo. “A atenção dada a esses alunos é redobrada”, mas é preciso paciência e confiança no trabalho da instituição escolhida, encerra Rosimeire.
Atitudes mais acolhedoras dos professores e assistentes trazem conforto à criança. Passar menos tempo na escola e ir aumentando o período de aula gradativamente também ajuda a aliviar esse estresse. Em alguns casos, o pai chega até a ficar na escola por um período como fazia na adaptação, discretamente, o que ajuda, além de tudo, a controlar a ansiedade dos adultos também. Deixar a criança levar um objeto pessoal para a classe é uma boa alternativa
para criar esse laço de intimidade.
Referência:
Kupfer, M.C., Teperman Daniela. O que os bebês provocam nos psicanalistas. São Paulo.
Escuta. 2008.
www.revistacrescer.com.br
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